quarta-feira, 7 de março de 2012

Mermão,

de volta. Desculpa pelo silêncio. Estava aqui numa correria nas últimas semanas, me dividindo entre o trabalho nº1 e outros projetos. Até lá o meu Som Imaginário está meio de lado. Aliás, você viu que eles - a banda mesmo - estão reunidos? 

Fui fisgado por uma música do Dylan esses dias chamada Changing of the Guards. Ela é do Street-Legal, de 78, e já tem o Dylan dialogando ali com o gospel - tem umas cantoras fazendo backing - e um outro tipo de onda. Ainda não avancei pelo álbum, fiquei preso mesmo na primeira, essa aí, mas o cara tem me fascinando ainda mais, a cada coisa que escuto. Cada disco é um disco, um momento. Aliás, li um texto - não muito novo, de dez anos atrás - daquele historiador, Eduardo Bueno, com uma análise sensacional da carreira do Dylan. Ele vem aí, né? Os preços, claro, lá no alto. Animei no início, mas depois desisti. Estou ainda com aquele Dylan clássico na cabeça.

Devo ir no Duran Duran. E também no Crosby, Stills & Nash.

Sobre a bola que você levantou, vamos lá. Acho que a música perde valor, sim. Não deixa de ser uma música boa, claro, mas a coisa vira uma farsa. E a sensação de ter sido enganado acho que já baixa a bola. O que eu tenho lido por aí, no caso da Lana del Rey, e meio que acho balela é, por exemplo, a coisa do sucesso calculado. Esse papo de que foi tudo programado, montado, com pai que tinha grana, mudança para um nome pomposo etc. Isso aí não me incomoda. Sem falar que Lizzy Grant já era interessante. Isso é visão de marketing, inteligência ali pro negócio e não dá para achar que a música pop, em 2012, caminha distante disso. A música é boa, o disco é bom. Então é o que vale. Po, nós sabemos diferenciar o que é música pop nesse campo da Lana e o que é um The Wall ou os songbooks da Ella. Mas é aquela síndrome indie de que o artista é bom quando está lá num pub de fundos. Não se pode ser grande, fazer sucesso. Fala sério, esse papo é pra quem?

Eu ainda não ouvi, mas estou interessado na menina. Na próxima carta volto com impressões. Li que tem umas cordas, umas coisas assim. Gosto disso.

Tenho ouvido muito Elbow, uma banda britânica da nova geração que tem um vocalista filhote de Peter Gabriel e equilibra muito bem o lado experimental do Radiohead com o pop do Coldplay. Sem contar que os caras manjam muito de canção, sabe? Você escuta a música e vê ali um cuidado com os temas e a construção da música. Eles te dão a impressão que estudaram bem a música de onde vieram - Inglaterra, no caso - e também a canção americana. Sobre a segunda, há uma bela citação a Summertime dando pista num dvd com a orquestra da BBC lançado alguns anos atrás. Tive a sorte de esbarra com show deles em Paris no fim do ano passado e foi mais que nota dez. Se ficar curioso, e quiser experimentar, recomendo o The Seldom Seen Kid, de 2008. Seja versão de estúdio, seja versão com a BBC Orchestra, que é demais. 

Estou na contagem regressiva pro The Wall, começando a tirar a poeira do LP. Comé que surgiu sua coisa com o Floyd? Conta aí pro pessoal que tá em casa entender esse lance.

Abração, 
Zimmerman



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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fernando,

Escrevendo rapidinho só para não deixar a peteca cair, mas esta vai curta.

Estou velho demais, e só vi Jeneci, que fez o primeiro show da noite -- e que me surpreendeu positivamente, mas não a ponto de considerá-lo o estouro que todo mundo parece achar. Preconceituosamente, achava que, no palco, ele fizesse o gênero introspectivo, quietão. Qual nada. Claro que não é um Mick Jagger ou uma Ivete Sangalo, mas tem lá sua presença, vai de lá para cá no palco e ataca nuns belos solos de sanfona com um apetite quase -- eu disse quase -- roqueiro. Carismático. E a menina que canta com ele, Laura Lavieri, tem uma voz que é uma graça. Tulipa fez uma breve participação durante o show do Jeneci em uma música dela que eu adoro, Às Vezes, mas saiu e só voltou para a sua própria apresentação. Foi o que eu consegui ver, antes de entregar os pontos e pegar um táxi para casa.

Lana del Rey, o disco está no iPod, mas ainda não parei para escutar direito. Sem comentários por enquanto. É uma farsante, é um Milli Vanilli dos novos tempos? Pode ser, mas eu não sei se me importo. Dá para entrar numa questão quase filosófica aí: a música, sendo boa, perde o seu valor se descobrimos que seu autor é outro que não aquele que imaginávamos? Para voltar ao exemplo mais icônico disso: Girl You Know It's True deixa de ser um hit certeiro, dançante, pegajoso, só porque o Milli Vanilli é uma fraude?

E Mayer? Eu ia, mas tive um imprevisto. Li que foi bom, mas não como da primeira vez.

Roger Waters, quero falar mais dele, mas tenho que encerrar por aqui. Resumidamente, a expectativa, para mim, é de show do ano. Sobre o Floyd, se me permite o conselho, deixe o Final Cut para o final e vá primeiro aos primeiros discos da carreira da banda. Não perca este fio, vamos falar mais de Waters e Floyd, eu retomo na próxima correspondência.

Abrá,

R.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fala, Rafa.

Estou animado para o show do Roger Waters. Aliás, ouvi falar que os ingressos encalharam, você viu isso? Não duvido. E não sei o que acontece com o Rio. Por outro lado, em Buenos Aires, o muro será levantado 9 ou 10 vezes, não lembro quantos shows serão. Assim, eu gosto de Floyd. Gosto muito. Mas minha relação ainda não é de total intimidade. Além dos óbvios Dark Side, Wish You Were Here e Wall, não caminhei muito. Como disse, há pouco tempo o Animals bateu bem. E o Final Cut tá lá na estante esperando a vez dele. No mais: alguns bons momentos no Division Bell e o DVD do Pulse. Mas é bom ter o Floyd ali, meio que aguardando o momento dele de me pegar. Essa relação também é boa: saber que tenho discos do Floyd inexplorados e que, a qualquer momento, poderei embarcar - um Meddle ou um Atom Heart Mother, sabe? 

Fala aí do show duplo de Jeneci e Tulipa. Foi bom? Entendo quando você diz que acha o Jeneci superestimado e talvez seja mesmo. Penso muito se não estamos na era de badalar essas coisas com certo exagero. Ou sempre foi assim. Ele vai precisar do teste do segundo disco. Tulipa está com o dela no forno. Mas nem ouvi o primeiro. Desde o fim de semana que estou ouvindo Cícero. Saca? Ele apareceu no Segundo Caderno esses dias e está com o nome rodando por aí. Fui gravar um vídeo dele lá pro tocavideos e antes fiz o dever de casa, baixei o álbum, Canções de Apartamento, disponível no próprio site dele. E olha, uma surpresa boa. Cícero é bom compositor, tem boa voz, bom gosto e caminha ali por um terreno meio Los Hermanos - mais no sentido da composição em si, do que do formato banda, sonoridade -, meio Moska.

Vi uns vídeos da Lana del Rey que você mandou e também por aí em blogs, impossível não notá-la. Sim, acho que criaram uma cantora bem diferente do que vinha aparecendo. Exatamente isso que você disse aí. E ela tem um ar meio misterioso, parece que está sempre com o olhar meio vago. Não sei. Tem algo. E o nome é mesmo pronto, embalado para o sucesso. Eu quero ouvir o álbum, acho que pode vir coisa boa. Você já ouviu?

Assisti o primeiro episódio de Treme ontem. Gostei. Não foi arrebatador, mas acho que nem é o propósito desse início. Num geral é bem interessante e espero que continue ao longo dos próximos.

Sexta, dia 3, tem Mayer Hawthorne no Circo. Vou pra segunda dose.

Abração,

Neuma

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Neumayer, meu chapa,

A questão que você coloca tem sido recorrente, nos últimos tempos, em meus pensamentos sobre música. Entre o bom e o ruim, é claro que fico com o bom -- alguém não fica? Mas e entre um bom mais do mesmo e uma reinvenção que não cabe na dicotomia bom/ruim? O que posso dizer, correndo o risco que toda generalização comporta, é o seguinte: mais do mesmo, só se for, de fato, arrebatador (e aí, filosoficamente, eu diria que já deixou de ser mais do mesmo...). Do contrário, fico com a reinvenção. Nem que seja para ouvir e achar uma merda...

Sobre Recanto: até o presente momento, para mim, o disco é do Caetano,e não da Gal. I rest my case, como dizem nos filmes de tribunal.

Ouvi Kiwanuka, atendendo à sua sugestão. Quanto a certas coisas não há discussão: o cara é bom, sem dúvida. Entendo o que você quer dizer, e concordo com a distinção que você faz dele com relação aos outros representantes do tal do new soul (que, com certo orgulho, lembro que notamos antes da coisa ganhar a dimensão que ganhou). É cedo para eu avaliar qualquer coisa, escutei duas ou três músicas, mal e porcamente, mas me pergunto se não é justamente por Kiwanuka não ser nada disso -- nem retrô, nem açucarado, nem negroide, nem divertido, nem modernão... -- que ele acaba meio... diluído. Estarei sendo ranzinza? Ouvirei com mais atenção e te dou notícias.

Quem me chamou tremendamente a atenção foi Lana Del Rey. Ela é uma que, aparentemente, foge do que temos visto por aí no quesito cantoras. Não é rebolativa que nem Shakira e Beyoncé, não é eletro-gay tipo Madonna, Britney e Gaga, não é vozeirão tipo Adele e Christina Aguilera... E, no entanto, conseguiu uma identidade. Uma coisa meio musa retrô, etérea, surreal, evanescente. Paradoxalmente, a história dela até chegar aqui -- não sei se você leu a respeito -- é que inspira um certo pé atrás. Nenhum disco lançado, dois clipes lindos e superproduzidos, shows com lotação esgotada em minutos, aparições em programas de televisão, músicas na trilha de séries... E eu me pergunto o quanto disso foi pré-embalado por marqueteiros de vasta experiência (o próprio nome, Lana Del Rey, me parece pronto para vender, sabe?) e o quanto é talento genuíno. Espero, sinceramente, que a porcentagem maior seja da segunda opção.

Roger Waters será a minha segunda vez -- mas com sabor de primeira, porque é o show do The Wall, de cabo a rabo. Foi o primeiro disco do Pink Floyd que me pegou pelo colarinho (embora hoje goste mais de Dark Side of the Moon, que considero uma joia perfeita, sem qualquer ressalva). O que dizer? Será magnânimo, como foi o show anterior e como convém a Waters, um filho da puta sob certos aspectos, mas talentoso.

Neste fim de semana, verei Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, em show duplo no Circo. Tulipa me agrada demais, mais até do que Jeneci (que, em certos momentos, vejo como um cara talentoso, sim, mas um tiquinho superestimado). Depois conto.

Queria falar de Michel Teló, mas deu preguiça. Por que será?

Beijoca no coração,

R.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fala, Tex.

Estamos de volta. E esses intervalos são bons também.

Então, Gal e Caetano... Sempre fico com pé atrás com cds que já nascem totalmente hypados, talvez fosse melhor não ter muito contato com a websfera e apenas saber que tem disco novo, de dois gigantes, na praça. Talvez isso me ajudasse a pegar mais leve. Mas como não tem jeito, vamos lá. Li uma coisa aqui, outra ali, e despertou minha curiosidade o que falavam sobre Miami Maculelê. Fui no youtube e achei sofrível. Musicalmente ruim. Na hora, fui no gtalk, e perguntei para você e mais duas amigas (muito mais ligadas à mpb que eu e ao passado dos dois) o que achavam. Você ainda não tinha ouvido. Uma me respondeu algo do tipo "é ruim, mas acho importante ser feito" e a outra disse que eu raciocinava muito em cima do que escutava.

Não sei se concordo com a primeira e a segunda, de certa forma, me fez pensar nisso: penso muito sobre o que escuto? Talvez sim. Mas uma coisa como Miami Maculelê me incomoda mesmo. Um encontro de Gal e Caetano flertando com funk, com bases do Kassin, é prato cheio pra todo mundo dizer que gosta para ser cool. E mais: as pessoas têm medo de não gostar. Então é mais fácil gostar mesmo e um abraço. Na sequência, busquei mais duas: Recanto Escuro e Neguinho. Achei coisa boa ali. 

Admiro quem tenta se reinventar, mas não sei se concordo que uma reinvenção ruim é melhor que uma tradição boa e certeira. Não vamos usar o termo mesmice porque é pejorativo. Mas talvez um disco da Gal, com inéditas do Caê, mais orgânico, com cordas, sopros e menos eletrônico, fizesse a minha cabeça. Mas aí Caetano não estaria dando mais um passo em sua conexão com os jovens cool que gostaram dos dois últimos dele. E aí chego na mesma dúvida que você: de quem é o cd? Da Gal com o Caetano? Ou do Caetano com a Gal? 

Pulando de faixa: Adele merece atenção. Comprei o DVD mês passado e é impressionante como ela domina o palco... do Royal Albert Hall (!). Não é para muitos, a menina é boa. Canta muito, tem charme, fala (até além da conta) com a plateia, comanda o show com estilo e maturidade e cresce ao vivo. Rolling in the Deep é na mosca. Set Fire to the Rain também. E como você disse: ela tem uma risada que fascina.

Ontem me peguei com umas mp3s do Michael Kiwanuka novas, de coisas que saíram aí há pouco tempo. O cd dele sai entre março e abril e já aguardo ansiosamente, pois acho que será um dos álbuns do ano. Eu brinquei lá no email que tinha tempo que não aparecia um desses. Posso ter exagerado, mas explico: ele não é retrô (Saadiq); não é açucarado (Maxwell); não é espalhafatoso e com vocais negroides (Cee Lo); não é ensolarado e divertido (Mayer) e nem modernão (Jamie Lidell). E mais, foge do que todos esses aí buscam: o groove, o batidão, uma super banda de black music por trás. O Kiwanuka é capaz de sentar com o violão na sua frente e te arrebentar. Não sei, mas vejo mais feeling, vejo a música vindo mais lá de dentro, sabe?

Não que buscar o groove seja demérito. Não que eu não valorize os que citei; pelo contrário, escuto e gosto muito de todos. Só acho Kiwanuka busca outro caminho, outra abordagem. Eu vejo até Clube da Esquina ali dentro. E isso me fisgou.

E Roger Waters? Será meu primeiro, não vejo a hora.

Abração e vambora, 

Neuma

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Neumayer, meu caro,

Os últimos meses foram tão bons, pessoal e profissionalmente, quanto enrolados. E esta troca de missivas ficou abandonada. Desleixo que tentarei não repetir neste 2012 que começa agora. Resoluções de fim de ano, pois é. Sem mais delongas, vamos ao que interessa: música.

As últimas semanas do ano foram com Recanto, o novo da Gal Costa com músicas de Caetano Veloso, tocando lá em casa. Já conversamos um pouco sobre o disco. Não posso dizer que seja ruim, mas o fato é que ainda não conseguir formar um juízo de valor preciso. A dúvida que me assolou de imediato, a bem da verdade, não foi quanto à qualidade do álbum, mas quanto a quem creditá-lo. É um disco de Gal com músicas de Caetano? Ou é um disco de Caetano com a Gal cantando? A ideia pode soar maquiavélica, mas a sensação é de que, ali, um tentou extrair algo que o outro podia dar. Gal atrás de uma lufada de ar fresco, de uma renovação de público, de contato com um público mais jovem. Caetano buscando um passo a mais em sua experimentação sonora, avançando sobre a eletrônica depois de um álbum de "MPBrock" (Cê) e um de "samba-rock" (zii & zie), utilizando como veículo uma cantora que nada tem a ver com esse universo. Quem saiu ganhando com isso? Ela? Ele? Ambos?

Adele, quem diria, começou a puxar o anzol mais forte. Vi uma entrevista da moça na Globonews e fiquei encantado -- que mistura precisa, e ao mesmo tempo tão espontânea, natural, sem vestígio de cálculo marqueteiro e deliberado, de diva inalcançável com moleca inglesa. E que risada escandalosa é aquela? Daí, embarquei no 21, que estava esquecido na estante, e... tem belos momentos. Ainda tenho a impressão de que ela é meio superestimada (mesma sensação que ainda tenho com relação a Janelle Monáe, de quem você tanto gosta). Seja como for, está acima da média. E, com mais algumas audições, quem sabe não passo a gostar ainda mais.

Você me perguntou sobre Pink Floyd, e a aquisição de 2011 para a discoteca foi a caixa Discovery, com toda a discografia dos caras. Lindona. Animals, que te agradou, é um ótimo disco, que acabou, circunstancialmente, meio empalidecido -- não é fácil ser o sucessor de Dark Side of the Moon e Wish You Were Here, menos ainda ser isso e ainda por cima o antecessor de The Wall. Mas é um álbum do qual eu gosto. Menos psicodélico, viajante e progressivo do que a imagem que temos da obra do Floyd. (Ah: não deixe de ler a matéria da Rolling Stone que está nas bancas, sobre Dark Side of the Moon. Bem interessante.)

Falando nisso, e o Roger Waters, hein? Graaaandes expectativas.

Assim como são grandes as expectativas em torno de três discos lançados em 2011, mas que ainda não escutei: o novo do Trombone Shorty, o novo da Florence + The Machine, o novo do Keith Jarrett (com o concerto que ele fez no Rio). Quando ouvir, dou notícias. O ano vira e não dá tempo de escutar tudo...

Abraço, feliz 2012.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Tex,

Concordo com os diferentes patamares dessa turma dos 80s - e ainda coloco Duran Duran aí num nível acima do A-ha e um pouco abaixo dos Tears for Fears. Tem duas coisas no TFF que me conquistam de cara: a coisa Beatles descarada e uma onda progressiva, sabe? Música com parte C lá no final, do nada. Isso me fisga, cinco minutos de música, já rolou tudo e os caras metem uma surpresinha, um vocal novo, sei lá. Isso é demais. A turma do Depeche eu não conheço. Mas tô contigo nessa parada. E isso me leva à Sade, que também tá pela área. Entre as coisas que minha mãe ouvia estavam os discos dela. Acabei indo no youtube ontem relembrar uns hits e passei por Still in Love With You, que é a música do dia, já perdi a conta de quantas execuções. Que charme. Que voz. Que coisa. E não só a dela - que saiu numa coletânea recente - como a original do Thin Lizzy. 

Pato Fu não faz minha cabeça. Quanto ao projeto com instrumentos de brinquedo, não sei, é bom mesmo? Quando começou a pipocar coisas sobre o disco eu assisti um vídeo de Live and Let Die e, sinceramente, minha reação foi algo como: o Paul tá sabendo disso? No sentido de...bom, você sabe.

Mas diga lá, merece uma segunda chance?

Então, assunto da semana: Bob Dylan. Fim de semana passado, The Basement Tapes fez total sentido. Entrei de cabeça no disco, escutei sei lá quantas vezes desde domingo. Ele é daqueles gigantes que a gente, cedo ou tarde, alcança. Foi nocaute: The Band por trás com as harmonias vocais e aquele instrumental, Dylan à frente com aquelas canções e cantando diferente, assumindo outra persona. Fora as canções do The Band que entraram no meio. O que é Bessie Smith? Uou. Você tem intimidade com esse disco?

Volto ao R.E.M depois que ouvir aqueles discos do início da década de 90. Chego lá.

E o Floyd? Escutei o Animals, da edição nova. Gostei muito. Taí um álbum que eu nunca tinha parado para ouvir deles. Quero comprar o Dark Side, Wish You We Here, Animals e The Wall, dessas edições novas. Nem a Immersion, nem a Discovery, mas a Experience.

Abração, 

Neuma

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Velhão,

Cabou o RiR, graças a Deus. Concordo contigo, música é o assunto dominante por quinze dias, e isso é bom, mas... toda onipresença cansa (vide Shimbalaiê). Vi uma coisa ou outra do festival, mas não perdi meu sono por nada. Stevie Wonder, por exemplo, vi uma bons pedaços, mas só na reprise -- e o cara realmente é ótimo, como se eu precisasse dizer isso (aliás, o que deu no UOL pra publicar aquela resenha?). Jamiroquai é bacaninha, mas é a tal história: depois da terceira ou quarta música, tudo começa a soar igual. Mike Patton, já falamos, foi ótimo, acima da média. Elton John é sempre Elton John, mas concordo com o Medina, acho que ele foi comedido. Deve ter havido alguma coisa ou outra que eu esteja esquecendo, mas, noves fora, foi isso que me atraiu. Sei lá, é pouco para um festival de sete dias. Não sei se o problema é com o RiR ou comigo -- ou com ambos. Até 2013.

Direto para o fim da sua correspondência anterior: sim, R.E.M. saiu por cima, e acho que já disse que eles só não terminaram antes justamente porque queriam sair por cima. Imagina, encerrar a banda depois de Around the Sun. Ia ficar aquela impressão de "é, eles já estavam na pior, mesmo, foi bom ter terminado", mas não -- os caras ainda encontraram fôlego para duas pérolas: Accelerate e Collapse into Now. Olhando agora, ainda vejo uma certa simbologia bacana (embora não saiba se intencional) nos nomes dos dois últimos álbuns. Acelerando depois de um disco mal recebido, e entrando em colapso no agora, significando o fim. Viagem minha?

Tears for Fears foi bacana? Dado o que li no Som Imaginário, parece que sim. Andei pensando na banda esses dias, e cada vez mais me dou conta do quão acima da média ela estava considerando os hitmakers dos anos 80. Acho que há gente daquele tempo que talvez percebêssemos só como um pop grudento como qualquer outro, depois virou meio cafona ser flagrado escutando, envelheceu como um bom vinho e, hoje, olhando em retrospectiva, deixa transparecer uma certa sofisticação que não percebíamos tanto (pelo menos EU não percebia). Tipo Tears for Fears. Tipo Simply Red, Depeche Mode. Tipo outros que não me lembro agora. Durante um tempo, todos me pareceram andar de mãos dadas, digamos, com A-ha. Depois de crescido, vejo que estão em patamares diferentes.

Correndo aqui, finalizo com uma deixa que comento mais alongadamente depois: comprei o DVD do show Música de Brinquedo, do Pato Fu. Chegou a ouvir o disco de estúdio? Gosta da banda?

Abração,

R.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fala, Rafael.

Então, começando pelo Rock in Rio. Ok, elenco fraco esse ano, mas gosto do que gera - movimento na cidade, todo mundo falando de música, uma ou outra boa atração e diversão com shows ruins. De última hora, ganhei ingresso para sexta, ou seja, fui ver Elton John. Embora sinta da falta daquela voz que ele tinha, gostei muito do show. Bom estar lá acompanhado daqueles hits enfileirados, mesmo que ele, coitado, totalmente deslocado naquele lineup. Tem muita coisa bonita naquele catálogo ali, né? Uma música que ainda ecoava quando acordei no sábado foi Skyline Pingeon.

Pulo aqui a abertura do Milton, cara. Foi constrangedor. Aquilo foi uma cilada monumental para ele. Vamos para o sábado, vi, pela televisão, Milton e Esperanza, que achei esquisito. As bandas misturadas, Milton sem voz, Esperanza exagerando...  Fora que essa coisa dos encontros é perigosa. Pode ser bonita na ideia lá do curador e tals, mas, na prática, pelo que vi teve consequências sérias em quase todos os shows. O povo ensaia três vezes depois de trocar meia dúzia de emails e vai fazer um show de uma hora e pouco. Não é pra qualquer um. Já Mike Patton fez bonito. Entrou lá com o repertório italiano, acompanhado dos jovens da Orquestra de Heliópolis, e superou as -  já boas - expectativas. Resultado: uma ótima e empolgante surpresa e eu gostaria de ter visto in loco.

Domingão fui no heavy metal, craro. Ou, naquela bem Jornal Nacional, no dia do rock pauleira dos metaleiros. Sim, todo mundo de preto, mas um clima harmonioso em meio à barulheira sonora. Todos sabem que é o dia mais pacífico. Estão todos ali por um só motivo: música. E nada mais. Isso faz a diferença. O dia era do Metallica que encerrou a noite de forma espetacular. Não tem nem conversa, estão imbatíveis. Se em estúdio a fase de ouro foi até o álbum preto, que saiu no início da década de 90, no palco eles estão melhores do que nunca. Sóbrios, maduros e com total domínio. Foi bonito, Rafa. Sei que não é sua praia, mas é uma coisa de outro mundo uma apresentação dessas.

Amanhã tem mais. Vou para ver Jamiroquai, Janelle e Stevie Wonder. Você vai?

Passando pela onda jazz e blues. Quero pegar o Wynton + Clapton, o Wynton + Willie + Norah e também o da Ella. Mas, por enquanto, nessa praia, tem tocado muito The Bright Mississipi, do Allen Toussaint. Alto nível.

Sobre o R.E.M: saíram por cima, né?

Abração,

Neuma

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Filho,

Sabe quando as pessoas falam que não há tempo para mais nada? Pois é, está acontecendo comigo, e não é modo de dizer. No tempo que me sobra, o que falta é cabeça pra sentar a bunda e escrever uma resposta. Mas vamos lá.

Começo pela notícia mais fresca: o R.E.M. acabou!!! Olhando em retrospectiva, me pergunto se eles já não queriam encerrar na época de Around the Sun, disco meia-boca dos caras, e resolveram esticar um pouco para lançar dois ótimos álbuns, Accelerate e Collapse into Now. Tipo "não, não vamos acabar agora, com esse disco mais ou menos. Vamos sair por cima", manja? O R.E.M., acho que já te contei isso, me fisgou com dois clipes: o de Losing my Religion e o de Shiny Happy People. E não parei mais. De banda de rock, talvez seja aquela que eu tenho mais CDs (de verdade!) em casa. Gosto do modo como eles se tornaram gigantes, popstars, mesmo, sem perder uma certa pegada indie. Nisso, aliás, os caras foram pioneiros: abriram a porteira para que esse caralhau de bandas indies que a gente vê hoje começasse a tocar na MTV e encher festivais. Recupere o tempo perdido, vá atrás de Automatic for the People, de New Adventures in Hi-Fi, de Reveal -- e, claro, de Out of Time, o divisor de águas. Depois, volte um pouquinho mais no tempo até Green, o primeiro deles pela Warner (de chicletes estranhos como Pop Song 89 e da foda Orange Crush. E, depois disso, volte ainda um pouco até a fase mais roots dos caras, até o primeiríssimo Murmur.

Estive na expo do Miles. O que dizer? Estupenda, e isso nada (ou pouco) tem a ver com o fato de eu gostar tanto de jazz. Meu pai, por exemplo, que não tem nenhum interesse específico, saiu de lá bestificado. Fiquei tentando imaginar o trabalho de montar aquela estrutura toda. E, como você já havia observado, o modo como o som se insere na exposição, quase como se ele interagisse com os objetos, mesmo... Muito, muito bom. Gostei muito, também, daquelas pinturas que foram usadas em Bitches Brew, mas nos seus tamanhos originais. E me deu vontade de rever Ascensor para o Cadafalso, do Louis Malle. Você viu?

E, voltando ao nosso new soul (há quanto tempo já falamos disso, hein?), o que você achou de Sabrina Starke? Achei bem bom, ao contrário do novo da Joss Stone, indeciso entre o rock e o soul. E como grita, a moça. Como se alcance vocal fosse voz. Como diria o Paulo Francis, pfui.

O jazz/blues tem rolado bem em casa. Recebi um ótimo da Ella Fitzgerald, com gravações dela para a BBC. Caracoles. Como cantava, a mulher. Tem um DVD também, que ainda não vi. E gostei muitíssimo do registro do show de Wynton Marsalis e Eric Clapton. Cada um à sua maneira, dois conservadores musicais, mas que tocam pracas, escoltados por uma ótima banda. Corra atrás e preste atenção no arranjo que fizeram para Layla, quase marcha fúnebre. Tirando esta, todo o repertório é de blues clássicos, mesmo. Tenho achado boas essas parcerias do Wynton, primeiro com o Willie Nelson e depois com o mesmo Nelson e com a Norah Jones, tocando Ray Charles. Como disse o Serjones, é uma boa solução para ele, que toca muito, mas não parece ter ideias para um disco próprio -- como o jazz, para ele, morreu nos anos 70, talvez ele não se sinta digno de produzir algo novo, mas apenas de reverenciar o que já foi feito.

Por hoje é só, pe-pe-pessoal.

Abração,

Eu